[AUGUSTO] Carta Encíclica Dignitas et Vocatio Laicorum — sobre a Dignidade e a Vocação dos Leigos na Igreja

 

Carta Encíclica Dignitas et Vocatio Laicorum — sobre a Dignidade e a Vocação dos Leigos na Igreja

       
U G U S T U S,  P I S C O P U S
SERVUM SERVORUM DEI

A todos as filhas e filhos da Santa Mãe Igreja e ao mundo,
concedo minha Pia bênção Apostólica.

I. PROÊMIO

É em espírito de humildade e profundo respeito que hoje nos dirigimos a vós, amados filhas e filhos, irmãs e irmãos, para reconhecer e honrar a dignidade e a vocação dos leigos no corpo místico de Cristo, a Igreja. Por muito tempo, a Santa Mãe Igreja, em sua venerável tradição, guiada pelo desejo de resguardar os mistérios e as sacrossantas ordens, cometeu equívocos ao restringir a ação e a voz dos leigos, limitando-os a funções menores, subalternas ou administrativas. Não podemos, contudo, ignorar que em sua natureza divina a Igreja é viva, chamada a ser fiel ao seu Fundador, Nosso Senhor Jesus Cristo, e aos tempos presentes. Tal como a mãe amorosa, ela precisa atender às necessidades de todos os seus filhos, leigos e consagrados, unindo-se com um só coração e um só espírito, para que o mundo creia e veja o testemunho de unidade, amor e justiça.

II. DO CHAMADO E A MISSÃO DOS LEIGOS

Reconhecemos, com o coração contrito, que muitas vezes falhamos em perceber a força e o zelo dos leigos, que, sendo batizados e selados com a graça do Espírito Santo, possuem a dignidade e a missão de serem portadores do Evangelho a todos os lugares e a todas as criaturas. Como nos ensina a Sagrada Escritura, "não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro nem cita, escravo nem livre, mas Cristo é tudo em todos" (Col 3,11). Em cada batizado, Deus plantou a semente de uma vocação santa e irrenunciável, uma vocação que deve resplandecer diante dos homens como uma lâmpada em meio às trevas.

É notório que a missão da Igreja ultrapassa os muros dos templos; ela é vivificada e ampliada nas ruas, nos lares e em todo o âmbito social do habblet. Neste sagrado apostolado, os leigos encontram-se na linha de frente. Lamentamos, pois, que por tempos imemoriais e em muitas ocasiões, as ordens eclesiásticas tenham suprimido, em sua prática e entendimento, o papel essencial dos leigos na construção do Reino de Deus. Com pesar reconhecemos que, em diversos contextos e eras, o clero impôs uma hierarquia rígida e desproporcional, esquecendo-se de que o Salvador mesmo elevou a todos os que n’Ele creem como seus amigos e colaboradores na vinha do Senhor.

III. DO DESAGRAVO

Neste solene ato, com o coração contrito, clamamos o perdão de todos os leigos por quaisquer atitudes de exclusão e desdém. Rogamos que aceitem nossas palavras e abram seus corações para a nova luz que o Espírito nos concede. Não queremos, neste tempo presente, obscurecer o facho da fé que reside em cada fiel, mas, ao contrário, imploramos que o próprio Espírito Santo venha a soprar vigorosamente sobre os dons e talentos dos leigos, que têm sustentado, muitas vezes em silêncio e com grande dedicação, o fulgor da nossa fé.

Para que esta retificação seja clara e perene, afirmamos: o leigo é chamado a compartilhar do apostolado da Igreja em igualdade de dignidade, ainda que em diversidade de tarefas. Por todo o habblet, os leigos servem como catequistas, missionários, ministros da Palavra e agentes de caridade, sendo este serviço digno de louvor, reconhecimento e apoio por parte do clero. Por isso, condenamos qualquer ensino que perpetue a visão do leigo como subordinado e limitado. Ao contrário, reiteramos com vigor: cada fiel é chamado ao serviço integral, guiado pelo Espírito, e deve ser incentivado a viver sua fé em plenitude, contribuindo para a edificação de toda a comunidade.

IV. DOS PASTORES

Aos eminentíssimos cardeais, excelentíssimos bispos, reverendíssimos sacerdotes e todos os saudosos consagrados, dirigimos estas palavras com solicitude paternal: lembrai-vos que os leigos são vossos irmãos, partes inseparáveis da vossa missão e do vosso ministério. Nos tempos passados, foi comum que o clero estabelecesse barreiras e distinções que hoje reconhecemos como um erro e um mal-entendido da própria missão e natureza da Igreja. Não é vosso dever limitar, mas apoiar; não é vossa missão comandar, mas servir com mansidão e humildade, tal como o próprio Cristo, que lavou os pés dos seus discípulos e os ensinou a serem “mansos e humildes de coração” (Mt 11,29).

A cada pastor cabe a tarefa de orientar os leigos a desenvolverem sua vocação, a caminharem com a fé e a coragem necessárias para enfrentar os desafios do mundo moderno. E, ao mesmo tempo, exortamos nossos amados leigos a caminharem com seus pastores, com espírito de caridade, colaborando de coração aberto, sem receios nem desconfiança, mas com plena consciência de que, juntos, formam o corpo visível de Cristo.

V. DA NECESSIDADE DA REFORMA

Nossa amada Santa Mãe Igreja, por seu Fundador e Redentor, é viva e chamada à renovação. O mundo, com seus desafios e avanços, interpela a Igreja, e a Igreja deve responder com prontidão e sabedoria. Não podemos ocultar que, muitas vezes, a nossa Mãe Santa resiste, com temor, aos novos ventos de mudança, preferindo a segurança das velhas práticas e dos antigos costumes. No entanto, fiel ao Espírito Santo, que é sempre novo, somos chamados a não nos apegar excessivamente às tradições humanas, mas a renovar o rosto da Igreja, para que ela resplandeça como sinal de esperança e de vida para todos os povos.

Temos consciência de que a renovação deste pontificado trouxe esperança e alegria, mas também gerou tensões. A todos, porém, recordamos que a Igreja deve sempre ser conduzida pela caridade, que é a “vinculum perfectionis” (Col 3,14), e pela justiça, que nos chama a reconhecer os sinais dos tempos e a responder às novas realidades e necessidades.

VI. CONCLUSÃO

Assim, queridas filhas e queridos filhos, declaramos que a dignidade e a vocação dos leigos devem ser reconhecidas e honradas em toda a Igreja. Que a voz de cada fiel ressoe nos conselhos e decisões, que suas mãos trabalhem lado a lado com as dos pastores, e que o Espírito Santo inflame cada coração com zelo e alegria no serviço ao Evangelho.

Que cada leigo seja acolhido, escutado, e motivado a servir conforme os dons e talentos que recebeu de Deus. E que toda a nossa Santa Mãe Igreja seja sempre aberta ao sopro do Espírito, vivendo em fidelidade aos seus santos ensinamentos, mas sem temer os desafios do mundo moderno. Pois assim nos ensina o Senhor: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,5).

Dado em Roma, sob nosso Selo Pontifical, no oitavo ano de Nosso Pontificado, no mês de Novembro, sob os olhares maternais de Nossa Senhora, que a todos acolhe e sustenta.

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